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sábado, 26 de janeiro de 2008

Aos detectores! - Por Roberto Jefferson

Já se tornou obrigatório, pelo costume, fazer um balanço ao final de cada ano, destacando fatos ou notícias mais interessantes do exercício que se encerra. É o prato típico da mídia neste período. Não fujo à regra e, olhando 2007, ressalto uma reportagem que me chamou particularmente a atenção e me fez refletir. Pequena, pode ter passado despercebida da maioria. Foi publicada por Veja, edição de 26 de dezembro. A entrevista com o americano Joe Navarro, na seção Auto-retrato, é, no mínimo, curiosa. Agente do FBI, ele cita estudos sobre a mentira - comportamento humano tão freqüente - e diz ter rastreado mais de 100 sinais típicos de um mentiroso.
O mais interessante é o reconhecimento de que 10% do contingente de mentirosos clássicos são indetectáveis. Ou seja, mentem sem pudor e não são flagrados! Para o especialista, os brasileiros, que abusam nos gestos e expressões faciais para mostrar seus sentimentos, exatamente por tais características, mentem mal. Povos mais fechados, que são por isso mesmo indecifráveis, têm maior pendor para a mentira. Respirei aliviado, após essa leitura. Conclui que temos futuro.
Talvez, nosso maior problema político seja a falta de detectores de mentira instalados por aí. No Congresso, no Executivo Federal, nos partidos e outros lugares estratégicos. Poderíamos facilmente detectar um mentiroso ainda a quilômetros dele. Talvez pudéssemos, a partir daí, entender melhor porque meu depoimento sobre a existência do mensalão, em 2005, provocou tanto silêncio e repúdio. E não o contrário. Afinal, o que se deseja não é a expressão da verdade? Por sua experiência, Navarro responderia que não. Estamos acostumados a ouvir e a mentir - nem que sejam as mentirinhas de salão. No geral, o que se faz não é o que se prega. "Relevante destacar, conforme será demonstrado nesta peça, que todas as imputações feitas pelo ex-deputado Roberto Jefferson ficaram comprovadas" - Relatório do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, em 29 de março de 2006. O que eu disse ficou comprovado. Não sou réu, sou testemunha.
Como relatei em Nervos de Aço, meu livro, à página 25, o que eu fiz - com minhas denúncias - foi tirar a roupa do rei, mostrar ao Brasil que o governo Lula e o PT estavam cheios de fariseus e vendilhões (...). Logo o PT que, pouco atrás, batia no peito e reivindicava para si a condição de ser o único partido que fazia política ungido pela moralidade. Logo o PT, que queria refundar o País, demonstrou não ter visão republicana. Mas o partido não está só. A esquerda de uma maneira geral vive uma crise intensa.
Recentemente, o neto de Che Guevara, Canek Sánchez Guevara - fato citado por Clóvis Rossi, em coluna, na Folha de S. Paulo -, comentou, em entrevista ao jornal espanhol El País, que a esquerda precisava fazer seu mea culpa e aprender com a crítica. "Sem ser crítico, não se pode ir a nenhum lado, se reproduz o pior." Posturas acomodadas - ao contrário de ajudar a revolução, refletiu, por sua vez, o cubano Eliades Acosta, chefe do Departamento de Cultura do Comitê Central - poderiam visar única e exclusivamente a preservação de cargos ou posições, o que seria lesivo à sociedade, completo eu. Que lição de democracia à cubana! e o reconhecimento tácito de que a utopia da igualdade esconde erros primários. O próprio "companheiro" Frei Betto falou do "tumor fétido" que o PT viu nascer e não rompeu - referia-se, imagino, ao mesmo esquema que expus ao Brasil.
Encerro essas curtas reflexões sem melancolia. Fiz o que fiz e faria de novo. O Brasil mudou. A mídia aprendeu a investigar mais a política. Avalio que precise apenas iniciar 2008 munida de detectores.
* Roberto Jefferson é o Presidente Nacional do PTB (Fonte: www.ptb.org.br)

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